terça-feira, dezembro 30, 2008

Não respire!

"Tudo na vida nos diz
que é num momento fugaz
o tempo de um raio-x
que a gente quer ser feliz
vai ser capaz?

Vai ser capaz de sair?
vai ser capaz de aguentar?
por todo o ser no parar
e nisso enfim emergir
vir respirar! "


hmmm... sim... hmmm... tenho coisas a contar.


| Parc des Expositions de Bruxelles (HEYSEL) | Palais 12, block 41E2| Bruxelas | Bélgica | 18 de Abril de 2008 |

segunda-feira, novembro 24, 2008

quarta-feira, novembro 12, 2008

A vida é um milagre.

Título roubado a Emir Kusturica.

Sentados os dois no sofá. Eu e ela. Ela lá acalmou um pouco. Pedi-lhe para esperar e fui buscar um livro. Ao olharmos para uma fotografia do nascer da Terra, a partir da Lua, insistiu comigo: «A Lua e a praia». Óbvio.


| vinhais | outubro 2008 |

terça-feira, novembro 11, 2008

Pensamento dissedente.

A propósito da eleição de Obama, meti-me a traduzir um texto da Judith Butler, cuja fonte me parece genuína, quanto mais não seja pelo estilo da escrita. Ainda assim mantenho uma pequeníssima dúvida. Aparentemente trata-se de um texto enviado originalmente por correio electrónico a várias pessoas. A mim próprio chegou-me por correio electrónico. Não encontrei qualquer desmentido.

Segue-se a tradução, com uma dedicatória especial ao Rui Tavares.

«Exuberância acrítica?
por Judith Butler

Poucos de nós estão imunes à festividade destes dias. Os meus amigos de esquerda, escrevem-me dizendo que sentem algo parecido com uma “redenção” ou que “o país nos foi devolvido” ou ainda que “temos um dos nossos na Casa Branca”. É claro que ao longo do dia sinto-me, tal como eles, tomada pela surpresa e a excitação, já que a ideia de ver o regime de George W. Bush pelas costas é um alívio enorme. E a ideia de que Obama, um candidato negro progressista e com consideração pelos outros, muda a história e faz-nos sentir de que forma os cataclismos produzem novos terrenos. Mas pensemos atentamente neste novo terreno, mesmo que não conheçamos neste momento todos os seus contornos. A eleição de Barack Obama ainda que não possa ser hoje completamente apreciada, é historicamente significativa, mas não é, nem pode ser uma redenção e, se subscrevermos a forma superior de identificação que ele nos propõe (“estamos todos unidos”) ou que nós propomos (“ele é um de nós”), arriscamo-nos a acreditar que este momento politico vencerá os antagonismos que são os constituintes da vida política, especialmente da actual vida política. Sempre houve bons motivos para não abraçar o ideal da “unidade nacional” e para fomentar suspeições face a uma identificação uniforme e absoluta para com um líder político. Apesar de tudo, o fascismo baseava-se em parte nessa identificação com o líder e, os republicanos usaram este expediente para conseguirem mobilizar politicamente os afectos quando, por exemplo, Elizabeth Dole, olha para a sua audiência e diz: “Adoro cada um de vocês.”

Torna-se ainda mais importante pensar na identificação política exuberante com a eleição de Obama quando consideramos que o apoio a Obama coincidiu com o apoio a causas conservadoras. De certa forma isto conta para o seu sucesso “transversal”. Na Califórnia, ganhou com 60% dos votos e, uma parte importante dos que nele votaram, também votaram contra a legalização do casamento homossexual(52%). Como podemos compreender esta disjunção aparente? Primeiro, lembremo-nos que o Obama não apoiou explicitamente o direito ao casamento homossexual. Além disso, como explicou Wendy Brown, os republicanos descobriram que o seu eleitorado não é tão galvanizado por questões “morais” como o foram em eleições recentes; as razões pelas quais as pessoas votaram em Obama parecem predominantemente económicas e as suas razões parecem mais estruturadas pela racionalidade neo-liberal que por preocupações religiosas. Esta é claramente uma das razões pela qual a função de Palin, de galvanizar a maioria do eleitorado com questões morais, falhou. Mas se questões “morais” tal como o controlo de armas, direito ao aborto e direitos de homossexuais não foram tão determinantes como anteriormente, talvez isso tenha acontecido porque se desenvolvem num compartimento distinto da mente política. Noutras palavras, estamos confrontados com novas configurações da crença política que tornam possível ter simultaneamente visões aparentemente díspares: por exemplo, alguém pode discordar do Obama em relação a certas questões e ainda assim ter votado nele. Isto torna-se mais óbvio no surgimento do anti-efeito Bradley, quando os votantes confessaram explicitamente o seu racismo, mas afirmando que de qualquer forma votariam em Obama. Há pequenas anedotas no terreno como a seguinte: “Eu sei que Obama é um muçulmano e um terrorista, mas votarei nele de qualquer maneira; ele é provavelmente melhor para a economia.” Estes eleitores mantiveram o seu racismo e votaram em Obama, conservando os seus valores díspares sem ter que os resolver.

A par com uma forte motivação económica, factores menos discerníveis empiricamente contribuíram para o resultado destas eleições. Não podemos compreender a repugnância que Bush, em representação dos EUA, provocou no resto do mundo, um sentido de embaraço sobre as nossas práticas de tortura e detenção ilegal, um sentido de repulsa em relação a uma guerra cujos motivos foram falsos e que propagou visões racistas do Islão, um sentido de alarme e horror face a extremos de desregulação económica que levaram a uma crise económica global. Será apesar da sua raça ou por causa da sua raça, que Obama surge finalmente como o representante preferido da nação? Satisfazendo essa função representativa, ele é simultaneamente negro e não negro (alguns dizem “não é suficientemente negro” e outros dizem “demasiado negro”) e, como resultado, pode chamar eleitores que não só não têm forma de resolver esta ambivalência como não querem ter essa ambivalência. A figura pública que permite às gentes manter e mascarar as suas ambivalências aparece ainda assim como uma figura de “unidade”: esta é certamente uma função ideológica. Tais momentos são intensamente imaginários mas não são, por essa razão, despidos da sua força política.

À medida que a eleição se aproximava, houve um interesse crescente na personalidade de Obama: a sua gravidade, a sua reflexão, a sua capacidade para não se exaltar, a sua forma de se manter indiferente face a ataques dolorosos e retórica política vil, a sua promessa de recriar uma nação que acabe com o actual embaraço. Claro, a promessa é tentadora mas, e se o abraçar de Obama nos levar a acreditar que acabaremos com toda a dissonância e que a unidade é efectivamente possível? Qual é a possibilidade de sofrermos uma certa e inevitável desilusão quando o líder carismático mostrar a sua falibilidade, o seu desejo de compromissos e até de “venda” das minorias? De facto ele já o fez de certa maneira, mas muitos de nós põem de lado essas preocupações de forma a desfrutar a “desambivalência” do momento, arriscando uma exuberância acrítica apesar de sabermos o que isso significa. Bem vistas as coisas, Obama muito dificilmente pode ser considerado um esquerdista, independentemente dos epítetos de “socialista” proferidos pelos seus opositores conservadores. De que forma as suas acções serão condicionadas pela política partidária, interesses económicos e poder de estado; de que forma não foram já comprometidas? Se através desta presidência, procurarmos ultrapassar o sentido da dissonância, então teremos descartado a política crítica em favor de uma exuberância cujas dimensões fantasiosas terão as suas consequências. Talvez não possamos evitar este momento de fantasia, mas tenhamos consciência sobre o facto de ele ser tão temporário. Se há racistas declarados que dizem “sei que é Muçulmano e terrorista mas votarei nele” há certamente pessoas à esquerda que dizem “sei que ele vendeu os direitos dos homossexuais e a Palestina, mas ainda assim é a nossa redenção.” Percebo muito bem, mas mesmo assim, esta é formulação clássica da negação. Porque meios mantemos e mascaramos crenças políticas conflituosas como estas? E a que custo político?

Não há dúvida que o sucesso de Obama terá efeitos significativos no rumo económico da nação e, parece razoável assumir que teremos uma nova forma de olhar para a regulação económica e uma visão da economia que se aproximará das formas sociais-democratas europeias; nos negócios estrangeiros, veremos sem dúvida um renovar de relações multi-laterais e o retrocesso da tendência fatal para a destruição de acordos multi-laterais da administração Bush. E haverá sem dúvida, nas questões sociais, uma tendência mais à esquerda, apesar de ser importante lembrar que Obama não defendeu os cuidados de saúde universais e não apoiou explicitamente o direito ao casamento de pessoas do mesmo sexo. E não há ainda muita razão para ter esperança no desenvolvimento de uma política americana justa no Médio Oriente, apesar do grande alívio que é saber que ele conhece Rashid Khalidi.

O significado indiscutível da sua eleição tem tudo a ver com o superar dos limites impostos implicitamente às conquistas dos Afro-Americanos; ele irá, ao mesmo tempo, precipitar uma mudança na auto-definição dos Estados Unidos. Se a eleição do Obama assinala uma vontade de parte da maioria dos eleitores para serem “representados” por este homem, resulta que o quem “nós” somos se reconstituiu: somos uma nação de muitas raças, de raças misturadas; e dá-nos a ocasião de reconhecer em quem nos tornámos e o que teremos ainda que ser, sendo ultrapassada desta forma uma aparente fractura entre a função representativa da presidência e as gentes que são representadas. É um momento empolgante, certamente. Mas durará e deverá durar?

A que consequências levarão as expectativas quase messiânicas colocadas neste homem? De forma a que esta presidência tenha sucesso, terá que levar a alguma desilusão e terá que sobreviver à desilusão: o homem tornar-se-á humano, mostrar-se-á menos poderoso do que o que desejaríamos e a política deixará de ser uma celebração sem ambivalência e sem cautelas; de facto, a política será menos uma experiência messiânica e mais o espaço de encontro de um debate vigoroso, crítica pública e do antagonismo necessário. A eleição de Obama significa que o terreno para o debate e o combate mudou e é certamente um terreno melhor. Mas não é o fim do combate e seria pouco inteligente olhá-lo dessa forma, mesmo que provisoriamente. Certamente concordaremos e discordaremos com várias das acções que tome e que não tome. Mas se a expectativa inicial é que ele é e será a própria “redenção”, iremos puni-lo sem misericórdia quando nos desiludir (ou iremos encontrar formas de negar ou suprimir essa desilusão de forma a manter a experiência de unidade e amor sem ambivalência).

Se a consequente e violenta desilusão pode ser precavida, ele deverá agir bem e rapidamente. Talvez a única forma de prevenir um “choque” – uma desilusão de grandes proporções que se viraria politicamente contra ele – será tomar acções decisivas nos dois primeiros meses da presidência. A primeira seria fechar Guantanamo e encontrar formas de transferir os processos dos detidos para tribunais legítimos; a segunda seria criar um plano para a retirada das tropas do Iraque e começar a implementar esse plano. A terceira seria retratar-se das considerações bélicas sobre a escalada da guerra no Afeganistão e a procura de soluções diplomáticas e multilaterais nesse campo. Se falhar nestes passos, o seu apoio à esquerda deteriorar-se-á claramente e verá reconfigurar-se a clivagem entre os falcões liberais e a esquerda anti-guerra. Se nomear os preferidos de Lawrence Summers para posições chave do seu gabinete ou continuar as políticas económicas desastrosas de Clinton e Bush então, em determinada altura, o messias será denunciado como um falso profeta. No lugar de uma promessa impossível, precisamos de uma série de acções concretas que comecem a reverter a abolição da justiça cometida pelo regime de Bush; menos que isso levará a uma desilusão violenta com consequências. A questão é saber em que medida a “des-ilusão” é necessária, de forma a regressarmos à política crítica e, que forma violenta de “des-ilusão” nos fará voltar ao intenso cinismo político dos últimos anos. Algum alívio da ilusão é necessário, de forma a que nos lembremos que a política, trata menos da pessoa e da promessa bela e impossível que representa, do que trata de mudanças concretas em políticas que podem começar, com o tempo e com dificuldade, a dar-nos formas de maior justiça.»


| no dia em que o joe strummer morreu ou, numa alternativa mais alegre, na noite em que o obama ganhou | amarante | portugal | outubro 2008 |

quinta-feira, novembro 06, 2008

quarta-feira, novembro 05, 2008

O contrário da violência.

Há coisas que leio com imenso gosto...

«Em grandes traços, as soluções passam, em primeiro lugar, por saber gerir a violência não só para o exterior do movimento (forças de segurança, autoridades, etc...) mas também para o seu interior (algo muito menos julgado frequentemente, pelos níveis de sexismo, agressividade e outras formas de violência visível nos espaços do movimento).
Em segundo lugar, há que combater a violência com o seu único antídoto: o humor. Ao contrário do que é costume pensar, o contrário da violência não é a paz mas o humor. Os activistas com tendência para a violência têm personalidades mais propícias ao drama que ao humor. Para gerir a violência faz falta ler muito menos o «Que fazer?» e ver muito mais os Monty Python.»

Tradução minha.


| pico | junho 2006 |

segunda-feira, novembro 03, 2008

quinta-feira, outubro 30, 2008

A hora é sempre a hora local.

Um fim de algum tempo começou a pensar que efectivamente poderia estar a ficar louco. Estava a olhar para o seu bloco de notas, depois de várias semanas de viagem e duas noites sem dormir entre comboios e estações geladas algures na Ásia.

Estava habituado a olhar para os seus textos como um conjunto de frases desconexas. Assim era mais uma vez e com o cansaço recente, a justificação parecia óbvia e natural.

No entanto as horas não podiam estar correctas. Primeiro essa discrepância passou-lhe desapercebida. Depois começou a perceber como as refeições sucediam-se a um ritmo pouco habitual. Não tinha hábito de usar relógio e o telemóvel há muito que andava desligado. Ali de nada lhe servia. Só se servia dos relógios das estações, para onde olhava com o mesmo olhar que se lança a um instrumento de tortura.

Foi então que se lembrou de uma antiga amante, com quem combinava encontros tanto do lado de cá, como do lado de lá da fronteira. A confusão com os fusos horários era recorrente. E ela, como se lhe sussurrasse uma secreta e perversa fantasia repetia-lhe sempre ao telefone: «cielo, la hora siempre es la hora local.»



| ilhéu de vila franca | s. miguel | junho 2006 |

quarta-feira, outubro 29, 2008

Uma notícia irrelevante.

Um dia, acabaremos por compreender o significado de pequenas notícias que nunca chegam às capas dos jornais. O que me apoquenta é que essa tomada de consciência será muito dolorosa.


| s. jorge | açores | junho de 2006 |

terça-feira, outubro 14, 2008

A América que admiro.

John Kifner no seu ensaio publicado na dispatches, relata a sua experiência no Afeganistão, aquando da invasão soviética:
«Along the way we met an old man who told us how terrible it was when communists came to his village.
I asked what they did, expecting a tale of atrocities.
"They tried to teach everybody to read," he said. " Even the women and the old men."
That's awful, I agreed politely. What did you do?
"Well, of course, we killed them all," he said. "Would you like to see their bones?"»

E conclui mais adiante sobre o papel do seu país no Iraque:
«When the British general Stanley Maude entered Baghdad in triumph in 1917 he declared to the Iraquis: "Our armies do not come into your cities as conquerors or enemies, but as liberators." Pretty soon the tribes were in an insurgency, kidnapping and killing British officers. Pioneering new technology, the Bristish bombed them from the air. They held an electoral referendum for their chosen king and declared he had gotten virtually all the votes.

Sound familiar?»


| gajas | março 2008 |

quinta-feira, outubro 09, 2008

E agora algo completamente diferente...

Acho que se me perguntassem de repente, num impulso imprevisto, numa interrogação inesperada, se era a favor ou contra o casamento de homossexuais, diria obviamente que sou contra.

Mas pronto, o mundo não é a preto e branco.

Transcrevo parte de uma conversa que tive há dois anos:

<2006>
A questão é então a seguinte: o casamento civil existe. Certo. Há hetero que se querem casar. Certo. Há homos que se querem casar. Certo. Estou disposto a apoiar todos os passos a dar no sentido dessa igualdade? Estou. Mas a minha opinião sobre o casamento mantem-se. É uma coisa que é mais do âmbito dos direitos de propriedade, das heranças, partilhas e quejandos do que do âmbito dos afectos. Para que serve o casamento? Para reproduzir práticas sociais civis que resultam de hábitos culturais determinados historicamente por práticas religiosas. Reconheço nuances em tudo isto, mas assim percebe-se melhor o argumento. :)

Portanto: queremos igualdade? Sim. Queremos casar-nos? hummm... não.
Analogia: Queremos que as mulheres vão à tropa? hummm... sim. Queremos que homosexuais o possam fazer? humm... Sim. Queremos nós próprios bater lá com os costados? Nem pensar!




| Pride LGBT | Lisboa | Junho 2004 |

segunda-feira, outubro 06, 2008

Querida Deolinda...

O que se segue é pura ficção. A realidade é que comprei o disco da Deolinda. E que bela surpresa. Corram, corram...

Querida Deolinda,
os dedos tremeram-me. Na verdade, os dedos tremem-me. Comecei por escrever-te esta carta uma dúzia de vezes. Umas tantas vezes fechei o Eudora e desliguei rapidamente o computador que o meu tio que é professor deixou cá em casa. É um computador velho e como imaginas demora muito tempo a desligar. Enquanto esperava, logo ficava nervoso e com vontade de o voltar a ligar para que te pudesse finalmente escrever. Mas como sabes, os dedos tremiam-me e voltava a desliga-lo.

Quero que saibas que nunca conseguirei viver aí na cidade. Há muito barulho e nunca se pode andar descansado pela rua fora. Quando éramos miúdos gostava de vos visitar sempre. Havia sempre muita luz de noite, bolachas boas e refrescos de laranja.

Não sei como conseguiria viver sem o cheiro da carqueja a arder logo pela manhã... Bem sei que achas que por aqui somos todos brutos. Eu não sei que te diga. Os dedos tremem-me.

E mesmo que me achas um bruto, digo-te que o que me atormenta todas as noites. Penso nos filhos lindos que teríamos se um dia eu conseguisse que o teu coração voltasse para mim.

Nas noites frias poderíamos olhar abraçados para o céu à porta de casa.
No verão dançaríamos até cair em frente ao adro.
Ao Domingo mataríamos um galo para as visitas.
Haveria sempre presunto e queijo na mesa.
Poderíamos desligar de vez esta merda deste computador.

Querida Deolinda, tremem-me os dedos porque penso nos teus lábios. Ao fim da tarde, lá do cimo do monte, olho para as nuvens e começo a cantarolar. Como se isso me bastasse...


| VCI | Porto | 2007 |

sexta-feira, setembro 26, 2008

Uns picam, outros não.

Querido Mundo,
voltando à velha discussão... Já sabes que isto ainda está por debater em frente a uns pimentos padrão e umas cervejinhas.

Vou discutir isto com menos bibliografia que tu, algo que sei que não te deixará melindrado. :-)

Para começar falo-te de um dos princípios elementares de qualquer programador iniciado: o «se, então, senão» [if, then, else]. Com esta regra de decisão tão simples, muitos problemas da humanidade têm sido resolvidos. Isso porque os computadores são só ["só" :D ] máquinas de estado. Em certo sentido não são muito diferentes dos primeiros teares mecânicos, capazes de "recordar" um padrão para a criação de um tecido.

Isto tudo por causa do Negri? Sim, por causa do Negri. Por trás da sua capa de pensador contemporâneo sinto que o Negri nesta discussão sobre a Europa comete um erro elementar. Olhar para um processo social como sendo uma condição "if, then, else" é algo que nem um programador iniciado comete. Pela simples razão que as pessoas não são máquinas de estado, nem teares mecânicos.

Defender a instituição do neo-liberalismo pan-europeu para o melhor combater é por si só um pouco esquizofrénico. Mas afirmar que um "processo constituinte" só pode ser obtido percorrendo esse caminho é o típico argumento "mecanicista", comum aliás a muitas das discussões da esquerda. Com a devida distância, é uma linha de pensamento particularmente acarinhada pelos estalinistas na sua lógica de "revolução nacional" seguida de "revolução operária", que pretende mimetizar a todo o custo e em qualquer sítio do mundo a revolução russa (paz à sua alma).

E é falso pensar que todo o "não" ao tratado/constituição é exclusivamente uma resposta nacionalista, como de forma tão divertida o desmontou o Paco.

Esta é uma discussão exclusivamente táctica. Ao fim e ao cabo nunca se discute a essência do projecto. Mas penso que poderíamos mandar um mail ao Negri, mandando-o passear com o seu argumento profético "if, then, else". É um argumento que não poderemos aceitar, excepto se estivermos a falar de software.

:p

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| a multitude e um acordeão | euro 2004 | porto | 2004 |

domingo, setembro 21, 2008

Negri strikes back

Num artigo no diagonal, António Negri, relança uma discussão que será central em 2009 (se é que não central há muitos anos).

Dos anticorpos mútuos que guarda com correntes trotskistas europeias (a propósito, foi publicada uma tradução portuguesa de um livro que resume esse rendilhado), Negri acusa-as de fazerem coro com os Estados Unidos no sentido de derrotarem a constituição e a sua fénix, o tratado de Lisboa.

O argumento em si esclarece pouco e não junta nada à discussão. Aliás Negri poderia usar a mesma figura de estilo, acusando a extrema-esquerda europeia de fazer coro com a extrema-direita. Teria o mesmo significado intelectual.

De Negri fica-me exactamente a mesma sensação com que fiquei ao acabar de ler o Multidão: Negri fica paralisado perante a acção em política. Mas se em Multidão se encontra uma análise séria e interessantíssima do panorama internacional, este artigo é um panfleto no seu pior sentido.

É evidente que há inúmeros matizes nas formas que o "não" da esquerda toma perante a constituição e por isso o que mais surpreende é que alguém com a bagagem de Negri os escamoteie, metendo num mesmo saco um arco-iris (ou uma multitude, conforme a terminologia) de opiniões.

Parece no mínimo ridículo pensar que a Constituição poderia "afundar o Atlântico", quando o texto do novo tratado assume desde logo a centralidade da Nato no respeitante à defesa europeia. Diz assim:

"Os compromissos e a cooperação neste domínio respeitam os compromissos assumidos
no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que, para os Estados que são
membros desta organização, continua a ser o fundamento da sua defesa colectiva e a
instância apropriada para a concretizar"

A Europa é a nossa terra, tal como esta é a minha rua, mas a mim deixa-me algum incómodo esta leitura de "nacionalismo europeu" que se adivinha nas entrelinhas do que escreve Negri.

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| mosteiro de rila | bulgária | 2007 |

quinta-feira, setembro 18, 2008

Básico.

As vidas são um conjunto de projectos sempre inacabados. Este blogue tem essa vantagem. Nunca foi um projecto.

Tive momentos em que seguia com grande atenção grande parte dos blogues. Neste momento tenho os meus favoritos que podiam ser encontrados ali ao lado. Em geral não lia blogues apenas por limitações de tempo. Hoje vou deixar de o fazer pelos mesmos motivos pelos quais deixei de dedicar tempo às televisões generalistas.

Como habitual, passo rapidamente para o teclado alguns pensamentos soltos.

A informação que me chega da Bolívia, chega-me directamente ao correio, vinda de um amigo em Buenos Aires. Em três ou quatro parágrafos, aprendo mais sobre o conflito que em várias notícias que reduzem ao papel de vítima o embaixador golpista norte-americano e reduzem Chavez ao palhaço pobre da diplomacia mundial.

Com o historial de golpes de estado comprovadamente orquestrados pelos Estados Unidos, a América Latina continua a ser abandonada à sua pouca sorte pelas chancelarias dos países desenvolvidos. Mesmo o Nuno Amaral que escreve as suas crónicas no Público, me parece de uma parcialidade e de um empirismo surpreendente (e por isso mesmo inaceitável).

Da mesma maneira recebo da forma mais triste, a notícia de que aqueles que me cederam a sua cama em Baya Honda, quando por ali me vi cheio de febre, viram a sua casa, roupas, plantações e animais serem completamente destruídos pelo furacão Gustav.

Dos Estados Unidos vi alguns directos sobre o furacão (daqueles directos que transmitem zero de informação). De Cuba poucas notícias. Já se sabe: Cuba só existe nas notícias quando as notícias são dadas pelos Estados Unidos.

E aqui volto aos poucos blogues que ainda lia. Irrita-me que o mundo se reduza nestes dias a Barack Obama, a Sarah Palin ou a sei lá o quê. Sobre o LHC só li coisas pobres e mal informadas. Portugal, à falta de melhores notícias quase mergulha numa guerra civil, que entretanto já acabou.

Gosto de ler blogues. Acho que se pode aprender muito. E quero continuar a fazê-lo. Muitas das vezes fazem-me pensar - que é uma actividade que em geral me agrada.

Serei básico, mas nos dias que correm, as notícias chegam-me directamente à caixa de email, daqueles em quem confio e por quem tenho apreço.

Vou mudar o aspecto do blogue para um template básico do blogger. Vou retirar as ligações e deixar de lado o embuste do Adsense.

Vou reconstruir aquilo que leio em função dos meus gostos próprios (por nenhuma ordem em particular): ciência, novas tecnologias, política e esquerda europeia, fotografia, cinema, gajas inteligentes e gajos bons (ou vice-versa) e claro as minhas amizades.

Temo por mim próprio: isto parece-se demasiado com um projecto e por isso o mais certo é não dar em nada. Entretanto volto à escola primária dos blogues. Sigam-me.


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| a "minha" cama | baya honda | cuba | 2008 |

quinta-feira, setembro 04, 2008

O que visitar em São Miguel - Açores




Acho que isto que escrevi há uns meses para uma amiga, pode dar jeito:


Quanto a S. Miguel, acho que há muito a visitar. o ideal é que alugues um carro. os carros são bastante caros, mas a verdade é que é mesmo a única maneira de visitar a ilha.

A ilha é muito bonita e fácil de descobrir. A única regra é andar devagar na estrada porque pode aparecer-te uma vaca ao virar da esquina. A sério. :|

Pega num mapa para acompanhares o que te vou dizer:
percurso 1 - zona oeste (a clássica volta ao concelho de Ponta Delgada)
-sair de PD em direcção ao aeroporto. e subir até às sete cidades, pela vista do rei. antes de chegares lá cima visita as lagoas empadadas. são muito bonitas. depois vira para a lagoa do canário e dá um passeio a pé na zona. muito bonito. procura o miradouro sobre as sete cidades. é a vista mais bonita.
-continuar até à vista do rei e descer até às lagoas.
-sair não pelo mesmo caminho mas em direcção aos mosteiros.
-visitar a ferraria (acho que tens que virar para ponta delgada), descendo até lá baixo. é a zona mais recente da ilha. há água quente a nascer no mar e é natural que vejas gente a tomar banho. eu não aconselho, a minha irmã já o fez e diz que se a maré estiver demasiado baixa é fácil alguém queimar-se.
-continuar em direcção aos mosteiros e fazer o percurso até à bretanha.
-almoçar na bretanha num restaurante chamado "cavalo branco". se não encontrares, pergunta, toda a gente conhece.
-visitar o porto das capelas (uma escarpa enorme) e regressar a ponta delgada

percurso 2 (lagoa do fogo e das furnas).
-sair de ponta delgada em direcção à lagoa do Fogo. Subir. Apreciar. Se tiveres tempo, desce lá abaixo. o percurso é difícil e exige cautela e no mínimo 3 horas. é a única lagoa onde ainda se pode tomar banho, se bem que eu não aconselho. :)
-descer em direcção à costa norte e tomar banho nas águas quentes da caldeira velha. obrigatório.
-possibilidade de almoçar na ribeira grande (há vários restaurantes, mas não sei o nome).
-Continuar em direcção às furnas. ver o miradouro do pico da pedra e/ou do salto do cavalo.
-visitar as caldeiras (comer milho cozido e bolos lêvedos) e a lagoa.
-se quiseres comer o cozido em vapor, telefona de véspera para o restaurante Miroma. É cozido à portuguesa e é bom. :)
-visitar a praia da ribeira quente. fixe para tomar banho.
-regressar pela costa sul. visitar vila franca do campo.
-em água de pau, descer até ao Porto da Caloura. é bonitinho e também é um sítio fixe para o banho.
-regressar a ponta delgada.

percurso 3 povoação e nordeste.
-é a zona mais remota da ilha e como não é excepcionalmente bonita pode ficar esquecida. é demorado lá chegar, mas felizmente as estradas são bonitas. Depois da Povoação, visita o Faial da Terra. Aí há um novo percurso a pé até uma aldeia recuperada. Ainda não fui lá.
-se te sentires com coragem mete o carro na estrada de terra da serra da tronqueira. É bonita a vista para o Pico da Vara, mas só se estiver bom tempo.
-depois é fazer o recortado da costa do nordeste até à ribeira grande. é um percurso enorme. mas bonito. :)

praias.
o tempo em S. Miguel é dominado pelas serras. dependendo do vento, olha para o céu e vê onde há nuvens e sol. Se as nuvens estiverem na costa norte, toma banho na praia do pópulo. é um clássico. Se estiverem nuvens a sul, vai de carro até à ribeira grande (são 10 minutos) e logo na primeira rotunda vira para o mar (acho que há placas). A praia é belíssima.
antes de te meteres na água, pergunta por precaução se há "águas vivas". são umas alforrecas pequenas e bastante perigosas. são típicas em agosto.

Ilhéu de vila franca.
Prepara um lanche e mete-te no barco até lá. há barcos de hora a hora e vale a pena passar ali duas ou três horas a tomar banho. é um sítio bonito.

Ponta Delgada.
Cidade pequena e pouco preparada para os turistas. Em duas horas vês aquilo tudo. Agora já tem um shopping. :)

Hoteis não conheço. Óbvio. :)



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| festas do espírito santo | ponta delgada | açores | julho 2007 |

quarta-feira, setembro 03, 2008

Os papéis de Luc.

Ao longo da minha vida, vou guardando pequenos papeis que nunca sei como organizar ou sistematizar. Em geral vou deixando-os pela casa, em diferentes gavetas. Por vezes tropeço com um sorriso nas minhas próprias memórias e constato a sua inutilidade.

Esta tarde deito fora vários papeluchos, onde guardo várias coisas.
O endereço de correio electrónico do Nelson, que com grande simpatia tratou de me ir buscar e levar ao aeroporto.
O endereço electrónico do Félix que me impressionou pela sua cultura, boa disposição e espírito mordaz. E que me recebeu de forma inesquecível em sua casa.
E finalmente um cartão de visita kitsch mas belíssimo. Por cima de uma paisagem de praia tropical, com palmeiras e águas cristalinas, Aidita anuncia: «Se rentam habitaciones con todo o tipo de confort, con aire acondicionado, agua frie y caliente. Telf (53-7) 832 1392». Sigam o meu conselho: é um bom sítio para se ficar em Havana e não é por nada do que é anunciado.

E agora, com algum pesar, tudo isto vai para o ecoponto azul.

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terça-feira, setembro 02, 2008

Não, não ando doido.

Começo aqui a escrever a partir de:
-uma pequena provocação de um amigo (daí o título) e
-uma constatação: tenho fotografado cada vez menos.

Primeiro que tudo, sinto-me a mudar. Acho que isso é comum em qualquer idade. No entanto associamos isso a mudanças visíveis e que podem servir facilmente de explicação. Por exemplo: a mudança de escola, a entrada na faculdade, a saída da faculdade, uma nova namorada, a passagem por um país estrangeiro, um novo trabalho, etc... No meu caso, ao contrário do que possa parecer à primeira visto, nada disso. Eppur si muove.

Pela primeira vez embarquei num avião com apenas um rolo de slides na máquina e pilhas numa pequena digital. Nem um único filme a preto e branco. Ainda assim, ao fim de duas semanas, grande parte dos slides foram disparados para acabar o rolo antes do voo de regresso.

E assim se confirma: fotografo pouco. Gostaria de ter fotografado mais. Ou melhor, não fotografei porque fiz outras escolhas e não me arrependo delas, mas gostaria que essas escolhas não condicionassem o facto de não ter fotografado.

E finalmente depois de no fim-de-semana ter passado fugazmente pela zona do S. João no Porto (quem não sabe de que falo, soubesse) senti uma grande distância de parte da minha própria história de vida. E alguma tristeza por verificar que algumas das escolhas recentes que fiz são correctas. É um pouco esquizofrénico, mas é assim mesmo. Não, não ando doido.

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| graciosa, s. jorge e pico | açores | agosto 2008 |

quarta-feira, agosto 06, 2008

Então tá. :|

1. Dou por mim a pensar nos meus gostos fotográficos. Perante a possibilidade de comprar um livro, de demorar um pouco mais os olhos numa fotografia, invariavelmente caio sobre o foto-jornalismo. É um sentido do clássico que não sei explicar bem. Noutros aspectos da minha vida acho que o comportamento não é comparável. Na escolha de livros, músicas, filmes, ou mesmo quando se trata da escolha de uma refeição, os clássicos agradam-me mas não são necessariamente os meus preferidos.

2. Com chapéu na cabeça, uma mochila pequena às costas, cuecas q.b., três camisas, dois pares de calções, protector solar, uma garrafa de água e dinheiro no bolso, sairei de casa. Um pouco mais de mil euros. Terei sempre tempo suficiente para dormir depois de almoço. Jogarei às cartas com os velhotes pelo caminho. Comerei o pó dos jipes e das moto-quatro. Com o telemóvel enviarei fotografias ao fim do dia aos amigos e à família.

3. Com as notas dessa viagem não farei nada. Nem um blogue, nem um livro, nem uma sequência de crónicas de viagem. Mas não serão deitadas fora. Ao pé de uma lareira, em Trás-os-Montes, falarei disso numa noite de chuva sem televisão nem luz eléctrica. De manhã apreciarei os meus livros de foto-jornalismo. Serei mais velho.

4. Ando mais de avião do que o que gostaria. Leio menos do que o gostaria. Conduzo mais do que o que gostaria. Converso menos do que o que gostaria. Escrevo menos do que o gostaria. Fodo menos do que o gostaria. Uso palavrões mais do que o gostaria. Peso menos do que o gostaria. Já viajei tanto quanto gostaria. Durmo bem. Raramente bebo álcool. Apenas o que gostaria. Trabalho e cozinho às vezes.

5. E li o editorial da Máxima do mês de Agosto. Eu sei, é um comentário infantil. :D


|procissão do corpo de deus | porto | junho de 2007 |

sexta-feira, junho 27, 2008

Viro o disco.

Hoje, dia 27 de Junho de 2008. Uma data que apenas para mim fará sentido. Felizmente dentro de pouco tempo já a terei esquecido.


| procissão do corpo de deus | porto | junho 2007 |

quinta-feira, junho 19, 2008

Vuelvo al sur

Texto e foto: Daniel Navarro.
Tradução minha.
Música: Mercedes Sosa
Soy Pan, Soy Paz, ...


«Querido A.
Esta viagem foi muito forte para mim. Foram 20 dias muito intensos.
A minha mãe não sabia que chegava. Quando chegamos ela dormia. Mandei a "mucama" (argentinismo - antes dizia-se "muchaca con cama"="criada", por isso os argentinos misturaram as duas palavras abreviadas e ficou "mucama") dizer-lhe que o pequeno-almoço estava pronto. A minha mãe disse-lhe que queria continuar a dormir.
A Maria saiu do quarto e disse-me: "Agora não sei que fazer! Ela quer continuar a dormir!"
Entrei no quarto dela e disse-lhe: "vamos velha hinchapelotas, levanta-te que estou morto de fome!!!!" Recebi um dos abraços com mais gana da minha vida.
A mucama ficou séria já que nunca tinha ouvido que alguém falasse à senhora M. com tanta falta de respeito.

Buenos Aires estava linda, quase majestosa, como quando a deixei.
Os amigos continuam sendo de ferro e os amores incondicionais.
Os amores!!! Coisa muito forte que contrasta com este norte tímido.

Uma das coisas que mais me custou deixar ali, são os papéis que cá não posso ter. Aqui não posso ser nem filho, nem irmão mais velho, nem tio, nem local.
Comi com montões de amigos, falei com a minha irmã quase todas as noites até às cinco da manhã, desfrutei dos meus sobrinhos.

Vi o meu pai que há muitos anos não via. Discuti com ele sobre tango. Ele gosta de Gardel e para mim é uma cagada. Comecei eu a discussão para ver se mantinha intacto o seu poder para argumentar e gostei que fosse ainda hábil a discutir.

Dormi com um par de amigas do passado. Desfruto um pouco mais da infidelidade quando estou em Buenos Aires, porque são esses os amores que duraram toda a vida. Têm sempre a mesma intensidade e a mesma gana, apesar dos anos.

Nesta viagem não pude fotografar. A máquina foi o meu corpo.
Ab+
Daniel »


| Fotografia de Daniel Navarro |

segunda-feira, junho 09, 2008

Indiana Jones and the Killer Tomatos.

Há uma grande semelhança entre os produtores de cinema de Hollywood e os autarcas portugueses. Para um autarca português, o seu prestígio mede-se pelas toneladas de fogo de artifício que são usadas na festa da terra. Para o produtor de cinema de Hollywood, o interesse de um filme mede-se pela utilização sem critério de todos os efeitos especiais existentes na actualidade. E se têm dúvidas vão ver o último Indiana Jones ou dêem uma volta pelo país dia 15 de Agosto.


| havana | cuba | abril 2008 |

quinta-feira, junho 05, 2008

conversas apanhadas a meio...

«-Parece um disparo acidental :|»
«- Sim e não. Estava a enquadrar pouco convencido, na fracção de segundo em que me apercebi que o gajo ia passar, disparei. Arrependi-me e disparei outra. Prefiro esta. 8-) »


| capitólio | havana | 2008 |

quarta-feira, junho 04, 2008

quinta-feira, maio 29, 2008

Um dia escreverei aqui um texto chato, inconsequente e com alguns clichés sobre Cuba.


| havana | cuba | abril de 2008 |

sexta-feira, maio 23, 2008

Cada geração deveria ter o seu momento de glória, onde pudesse jouir sans entraves. Depois disso todos poderiam virar-se do avesso e tornarem-se balofos e chatos como o Cohn-Bendit ou o Serge July. Todos? Não. Quase todos. Que seria da humanidade sem o princípio esperança?



| bruxelas | abril 2008 |

quarta-feira, maio 21, 2008

O fim de um rolo é sempre o epílogo deprimente daquilo que o antecedeu.

| fim de rolo | aeroporto de bruxelas | abril de 2008 |

terça-feira, maio 20, 2008

Dicionário de Calão

O CDS, partido onde tradicionalmente militam os bétinhos, ficou melindrado pelo facto de os toxicodependentes designarem os bétinhos como gajos que não se drogam. E mais melindrado ficou pelo facto de o IDT, no seu site infanto-juvenil descrever essa terminologia. Basta visitar o site com olhos de ver para se perceber que ali, em nenhum sítio, se faz a apologia do consumo.

Daí até que esse dicionário de calão fosse suspenso, foi um passinho de fada.

Não me apetece sequer discutir a questão. Tudo isto tresanda a censura e a uma forma de resolver os problemas juvenis e familiares que se baseia na ocultação, na proibição e, em última análise, em desviar o olhar da realidade.

Eu limito-me a fazer o que posso. Por isso aqui fica a versão completa (e não censurada) do dicionário, com as definições de "betinho, "cócó" e "careta".

Aqui vai:

Abébia
Mentira

Açúcar
Heroína.

Agarrado
Fisicamente dependente de uma ou mais drogas.

Água
"Vem aí a água..." - vem aí a polícia.

Algodão
Algodão utilizado como filtro na preparação da dose injectável de droga.

Anfes
Anfetaminas.

Angel dust
PCP ou fenciclidina.

Atacar
Prostituir-se.

Ataque
Prostituição.

Atracar
Puxar e travar o fumo.

Aviado
Avaliação da quantidade de droga fornecida por um determinado preço.

Bacalhau
"Dar um bacalhau" - injectar heroína.

Bad trip
Má viagem; sensações angustiantes ou horríveis provocadas pelo consumo de alucinogéneos

Badalo
Injecção endovenosa de droga.

Bafinho
Heroína fumada

Bafo
Heroína fumada.

Balázio
Injecção endovenosa de droga.

Bandeira
"Dar bandeira" - vigarizar; dar nas vistas.

Banhada
"Dar ou levar banhada" - vender outra substância como se fosse droga. Pagar e não receber droga.

Baptizar
Iniciar na droga.

Baril
"Porreiro"; agradável.

Base
Cocaína pronta para fumar.
Mistura de cocaína com bicarbonato de sódio ou amoníaco e água.

Bater
Sentir o efeito da droga.

Bater um couro
Mentir. Contar uma história para obter dinheiro.

Bazar
Fugir.

Bebedeira
Efeito do consumo excessivo de álcool.

Besana
Embriaguez. Bebedeira.

Betinho
Conservador ou "arranjadinho".

Bezegol
Haxixe com muito óleo.

Bezerrar
Estar sonolento sob o efeito da droga.

Bico
Aspiração nasal de drogas.

Black tar
Heroína.

Bófia
Polícia.

Boi
Marijuana.

Bolha
O aquecimento da heroína transforma o pó em líquido cujo fumo será inalado.

Bomba
Consumo injectado de heroína.

Borregar
Adormecer. Ficar sedado.

Branca
Cocaína base.

Branquinha
Cocaína.

Broa
Polícia

Broca
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Brown
Heroína acastanhada.

Brown sugar
Heroína acastanhada.

Buba
Embriaguez.

Bué
Muito. Intenso.

Bufar
Denunciar.

Burra
Heroína.

Caldar
Injectar-se com droga.

Caldear
Injectar-se com droga.

Caldo
Dose de heroína injectável.

Camelo
Transportador internacional de droga. Correio.

Canalização
Veia. Cano.

Caneca(o)
Garrafa para fumar "base" (cocaína).

Cânhamo
Variedade de cannabis sem nenhuma ou pouca concentração de THC.

Cano
Veia. Canalização.

Caramelo
Fase de preparação da heroína fumada.

Carência
Privação de droga. Ressaca.

Careta
Aquele que não se droga.

Carica
Tampa de cerveja de litro onde se prepara o caldo.

Cassete
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Castanha
Heroína.

CAT
Centro de Atendimento a Toxicodependentes.

Catado
Estar preso. Apanhado. Detido.

Cavalete
Heroína.

Cavalo
Heroína.

Cena
Esquema. Consumo. Desatino.

Centenário
Variedade de ácidos, comemorativos do centenário da independência dos EUA.

Chamon
Haxixe.

Charrar
Fumar charros.

Charro
Cigarro de haxixe ou erva.

Chavalo
Jovem.

Cheirinho
Fumar heroína.

Cheiro
Inalação de drogas, colas ou outros produtos voláteis.

Chibar
Aquele que denuncia algo ou alguém.

Chibo
Denunciante.

Chica
Seringa.

Chilom
Cachimbo para fumar droga.

Chinar
Agredir com faca.

Chinesa
Heroína fumada.

Chino
Agredir com canivete.

Chnouk
Heroína.

Chocolate
Haxixe em placas.

Chosa
Produto. Droga.

Chota
Polícia.

Chui
Polícia.

Chuto
Injecção endovenosa de droga.

Coca
Cocaína. É um componente do crack, base e speed ball.

Coche
Pouco.

Cocktail
Mistura de drogas. Speed ball (heroína + coca).

Cocó
Betinho. Queque.

Cola
Colas voláteis que são usadas como inalantes.

Colher
Pôr na colher.

Comunidade
Comunidade Terapêutica

Controle
O que vende droga.

Corpo Santo
Narcóticos Anónimos, Famílias Anónimas, Alcoólicos Anónimos.

Correio
Transportador de droga.

Cortar
Falsificar droga juntando outras substâncias para aumentar volume e o peso.

Cotas
Pais ou outros adultos.

Crack
Cristais duros obtidos a partir da cocaína.

Cristal
Feniclidina, Pó-de-Anjo, PCP.

Cura
Desintoxicação. Desabituação.

Curro
Haxixe, em Lisboa.

Curte
Acontecimento agradável.

Curtir
Sentir prazer.

Dar
Consumir.

Dar a boca
Enganar. Roubar na qualidade e na quantidade de drogas. Tirar benefício material.

Dar de pino
Sair do local. Sair de casa. Desabrochar.

Dar na china
Consumir heroína fumada.

Dar na fruta
Drogar-se.

Dar nela
Drogar-se. Adicto.

Dar no cavalo
Consumir heroína.

Dar no pó
Consumir heroína.

Dar o banho
Enganar.

Dar uma passa
Fumar haxixe ou erva.

Dar-se à morte
Denunciar-se. Entregar-se.

Dealer
Vendedor de droga.

Desabituação
Desintoxicação em internamento. Tratamento da síndroma de privação.

Desatino
Conflito. Complicação.

Desbroncar
Sair de casa. Clarificar a cena.

Desbunda
Consumo exagerado numa vivência expansiva.

Descida
Retoma de consciência, quando termina o efeito da droga, Regresso à realidade.

Desintoxicação
Desabituação.

Desmame
Deixar de consumir. Desintoxicar-se.

Desmarcar
Passar. Entregar.

Desmarcar da droga
Deitar fora.

Destilar
Processo de preparação de uma substância para injectar.

Desvainar-se
Mudar de assunto.

Dilar
Negociar com drogas.

Diluente
Solvente.

Dispensar
Vender droga "por favor"; representar.

Down
Depressão ("Estar em baixo").

Drogarias
Drogas.

Drogas duras
Drogas que provocam grande dependência física e ressaca difícil (exemplo: heroína, cocaína, álcool, medicamentos).

Drogas frias
Drogas estimulantes (exemplo: cocaína, anfetaminas) ou alucinogéneas (exemplo: haxixe, LSD).

Drogas ilícitas
Drogas que são ilegais (exemplo: haxixe, heroína, cocaína, LSD, ecstasy).

Drogas leves
Drogas que provocam pouca dependência física e ressaca mais leve (exemplo: erva, haxixe).

Drogas lícitas
Drogas que são legais (exemplo: álcool, solventes, drunfos, metadona, morfina, cafeína, tabaco).

Drogas quentes
Drogas sedativas (exemplo: heroína, barbitúricos).

Drunfar
Estar "embriagado" com hipnóticos ou outros sedativos.

Drunfos
Comprimidos de metaqualona. Por extensão do conceito é aplicado a outros sedativos, particularmente hipnóticos.

Ecstasy Líquido
GHB - droga depressora, conhecida nos EU por droga das violações

Empenhar
Entregar ao dealer, a título provisório, objectos de valor como garantia de pagamento.

Encanado
Preso. Detido.

Enrolar
Fazer um cigarro com haxixe ou erva. Enrolar um charro.

Entrar no pó
Iniciar o consumo de heroína.

Erva
Marijuana: derivado da cannabis (folhas e flores).

Erva do diabo
Planta a partir da qual se prepara um chá, com efeitos alucinogéneos.

Esquema
Tráfico de droga. Processo ardiloso de obter dinheiro ou outros benefícios.

Estar careta
Não estar drogado.

Estar fechado
Não praticar o consumo de drogas.

Estar stone
Estar pedrado.

Estramónio
Erva do diabo (cacto).

Falta
Carência de droga.

Fatela
O que não presta.

Fazer a cabeça
Impingir ideias.

Fazer um deal
Traficar.

Fazer uma cena
Consumir. Fazer um esquema.

Fazer uma lavagem
Utilizar um algodão já usado.

Febre de limão
Síndroma febril, passageiro, atribuído pelos toxicodependentes à utilização de limões deteriorados na preparação de um "chuto" de heroína.

Ferrado
Dose com menor quantidade de droga do que o previsto. Mal aviado.

Figueira do Inferno
Erva do diabo.

Filar
Aproveitar.

Filtro
Algodão.

Fixo
Injectar-se na veia.

Flash
Efeito súbito e intenso produzido por algumas drogas.

Flashback
Retorno de um quadro alucinatório, angustiante, algum tempo (semanas ou meses) após ter parado o consumo de drogas estimulantes ou perturbadoras.

Flipado
Estar fora da realidade.

Flipanço
Perturbação psíquica grave, mais ou menos durável, provocada pelo consumo de drogas.

Flipar
Enlouquecer. Psicotizar.

Flipe
Chatice. Aborrecimento.

Formiga
Passador de droga. Correio.

Freak
Consumidor de drogas injectáveis.

Frosques
Sair de casa.

Fumado
Estar sob o efeito de droga fumada.

Fumar
Charrar. Queimar.

Fumar uma ganza
Fumar um charro.

Fumito
«Dar um fumito» fumar droga.

Fumo
Fumar droga.

Ganza
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Ganzar
Fumar erva ou haxixe. Sentir o efeito da droga.

Garrote
Apetrecho utilizado a fim de dar o "chuto".

Gazoza
Cachimbada de cocaína base.

Gold
Heroína muito pura.

Gulosa
Cocaína.

H
Heroína.

Hash
Haxixe.

Hax
Haxixe.

Hax de placa
Haxixe proveniente dos pedaços que se libertam do sabonete aquando do corte.

Heroa
Heroína de rua.

High
Bem-estar sob a sensação de uma droga.

História
Mentira.

In
«Estar in» estar na moda.

Inê
Cosmético que se confunde com haxixe, sendo vendido como tal.

Janado
Drogado.

Joint
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Judite
Polícia Judiciária.

Júlia
Cocaína.

Junkie
Dependente grave que se injecta.

K
Ketamina

Kif
Haxixe marroquino.

Kit
Conjunto de acessórios distribuídos na troca de seringas aos toxicodependentes problemáticos onde se inclúi duas seringas, um filtro, dois toalhetes desinfectantes, dois recipientes, duas carteiras de ácido cítrico, uma ampola de água bidestilada e um preservativo.

Kristal
PCP ou fenciclidina.

Lamela
Placa ou blister de comprimidos ou cápsulas.

Liamba
Erva (Angola).

Líquido E
GHB - droga depressora, conhecida nos EU por droga da violação

Líquido X
GHB - droga depressora, conhecida nos EU por droga das violações

Maconha
Erva (Brasil).

Mandar sabão
Sermão.

Máquina
Seringa.

Marijuana
Erva (Brasil).

Martelo
Injectar heroína (o efeito é repentino como uma martelada).

Meia
Dose de droga (1/2g).

Meio
Ambiente onde circulam drogas.

Merda
Droga. Veneno.

Meta
Metadona.

Meter
Consumir droga por via oral ou endovenosa.

Meter os pés
Enganar.

Moca
Estar sob o efeito da droga.

Monaria
Polícia

Mono
Polícia.

Morfa
Morfina.

Música rave
O rave caracteriza-se por retomar a festa, nas suas virtudes trangressivas, ideia multicultural, contributo político e religioso e com uma dimensão tribal das referências, intensidade do transe colectivo e rituais comunitários.

N.A.
Narcóticos Anónimos.

Neve
Cocaína

Nóias
Ideias erradas. Paranóias.

Óleo
Óleo destilado da cannabis, óleo de haxixe.

Onda
Atitude. Escolha. ?Estar na onda? ? estar sintonizado com.

Overdose
Ingestão excessiva de um medicamento ou uma droga que pode ter consequências letais. Excesso acidental ou intencional de droga ou de drogas, habitualmente, provocado pelo consumo por via endovenosa. Intoxicação aguda.

Palha
Dose de heroína embalada num pedaço de palhinha de sumos.

Panfleto
Pequena dose de heroína, embalada em plástico.

Pantera
Variedade de LSD.

Papa
Heroína de rua.

Papar grupos
Ser enganado.

Papel
Dose de heroína. Dinheiro.

Papeleto
Pequena dose de heroína embalada em mortalha.

Papétrio
Agarrado.

Paragem
Suspender os consumos.

Parampo
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Parar
Suspender os consumos de droga.

Partir
Início da alteração de consciência provocada pelo uso de alucinogéneos.

Passa
Fumar erva ou haxixe.

Passado
Estar fora da realidade. Drogado.

Passador
Vendedor de droga.

Passar
Vender droga.

Pastilhar
Consumir pastilhas.

Pastilhas
Comprimidos.

PCP
Feniclidina. Pó-de-anjo.

Peace pill
PCP ou fenciclidina.

Pedra
Pedaço de haxixe. ?Estar com a pedra? ? estar drogado.

Pedra de hax
Pedaço de haxixe.

Pedrado
Estar drogado com haxixe ou drogas sedativas.

Pedrinha
Base de cocaína para fumar no caneco.

Pica
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Picar
Injectar droga na veia.

Pico
Injecção nas veias.

Pingo
Estar sob o efeito da droga, completamente fora.

Pintão
Maniento.

Pintor
Dose de haxixe.

Pirâmide
Variedade de LSD.

Pistola
Injectar-se: seringa.

Planar
Estar tranquilo sob o efeito de drogas (cannabis ou opiódes).


Heroína de rua.

Pó de Anjo
PCP ou fenciclidina.

Poeira
Heroína de rua (a de menor qualidade, a mais adulterada/traçada).

Poppers
Líquido alucinogénio altamente potente.

Porro
Haxixe.

Prata
Heroína fumada. Prata do maço de cigarros ou similar.

Produto
Drogas em geral, mas especialmente heroína.

Prostituição
Ataque.

Prostituir-se
Atacar.

Quarta
Dose de heroína.

Quarteira
Dose de ¼ g.

Queca
Ter relações sexuais.

Queimar
Aquecer com o isqueiro a heroína ou cocaína.

Ramona
Polícia.

Refundir
Vender. Trocar por droga.

Representar
Oferecer droga. Vender por favor. Dar e consumir juntos.

Ressaca
Síndrome de abstinência, de carência, de privação. Sensação de mal-estar psíquico (nos consumidores de cocaína) ou físico (nos consumidores de heroína) após suspensão da droga no toxicodependente.

Rock
Crack.

Roipar
Estar drogado com roipes (fármaco hipnótico).

Sabão
Sermão.

Sabonete
250g de haxixe.

Sair
Deixar de consumir droga.

Salas
Reuniões dos N.A.

Sentir subir
Sentir os efeitos iniciais da droga.

Shoot
Aspiração nasal de cocaína, heroína, colas ou solventes.

Shot
Mistura de bebidas brancas servidas em pequenas doses.

Sniff/sniffar
Aspiração nasal de droga (cocaína, heroína ou solventes).

Snow
Cocaína.

Soruma
Erva (Moçambique).

Special K
Ketamina.

Speed
Droga psico-estimulante (cocaína, anfetaminas).

Speed ball
Mistura de uma droga estimulante (cocaína) com uma droga sedativa (heroína), usada por via endovenosa.

Speed cristal
Variedade de anfetaminas injectáveis.

Speed freek
Indivíduos que ficam vários dias acordados devido aos efeitos das anfetaminas.

Stone
Estar muito pedrado.

Subir
Sentir os efeitos iniciais da droga. Fase inicial no consumo de ácidos.

Submarino
Mistura de bagaço com cerveja.

Tablete
Placa de haxixe.

Taco
Pedaço de haxixe.

Tanga
Mentira.

Tarolo
Charro. Cigarro de haxixe ou erva.

Tigre
Heroína

Tirante
Fio de ouro.

Tirito
Injecção de droga (heroína).

Toínha
Fumar droga.

Traço(a)
Porção de cocaína em linha para ser sniffada.

Traficante
Negociante de droga.

Tráfico
Comércio de droga.

Tranzar
Vender droga.

Travar
Reter o fumo.

Tripar
Estar sob o efeito de alucinogéneos.

Tripe
Drogar-se com ácidos. Período de perturbação da consciência provocado por alucinogénios.

Usar
Consumir.

Vaipe
Impulso.

Vaquinha
Juntar dinheiro com outra pessoa para comprar droga.

Veneno
Droga. Heroína.

Viagem
Sensações (des) agradáveis causados pelos alucinogéneos.

Vibrações
Sensações causadas por pessoas ou pelo ambiente onde se está. Sensações com carga afectiva, causada por pessoas ou ambiente.

Vigarizar
Dar a bandeira.

Vitamina K
Ketamina

Vulcões
Variedade de LSD.



| atomium | bruxelas | abril 2008 |

sexta-feira, maio 16, 2008

Adultos

Durante anos, Deolinda foi perdendo o rasto aos seus amigos de infância e adolescência. Logo no final do ensino secundário com as escolhas de diferentes faculdades e universidades, sem telemóveis, correio electrónico, blogues ou áifáives muitas das amigas do peito passaram a memórias reavivadas esporadicamente de ano a ano ou nem isso.

Passaram-se os anos. Acabaram-se os cursos. Vieram os primeiros empregos. Depois vieram os segundos empregos. Vieram os mestrados e os doutoramentos. Vieram as partidas para outras cidades. Vieram as primeiras crianças. E vieram os primeiros encontros de antigos alunos.

E tudo isso se resumiu para Deolinda a uma única coisa: perceber que se tornou numa pessoa séria, eloquente, com algum sucesso profissional mas muito chata. Não havia grande coisa que a distinguisse para além do seu BMW descapotável. Tinha entrado na idade adulta pela porta da frente e dela não conseguiria libertar-se.

Photobucket
| bruxelas | abril 2008 |

segunda-feira, maio 12, 2008

Deveria ser possível dar chapada em certas pessoas, só porque sim.

Sempre achei divertida a ideia de que alguém poderia ser corrido da política da melhor maneira - após uma derrota improvável - para voltar passado uns anos como se nada tivesse acontecido. Foi esse o caso do Cavaco, que nas primeiras eleições presidenciais onde participou, foi humilhado por um candidato que sempre foi apresentado como derrotado à partida. Cavaco nunca tinha perdido umas eleições até aí. Nessa altura, até eu votei no Jorge Sampaio.

Em favor da eleição do Cavaco para a presidência jogou não só o comportamento deplorável do PS, como o início da decepção com a governação do Sócrates. Mas foi fundamental, como é evidente, a ausência absoluta de memória histórica por parte de grande parte da população, daquilo que foram os anos de selvajaria do cavaquismo. Uma falha também da esquerda no reavivar da memória desses tempos e do seu contributo para aquilo que o país é hoje.

Mais irónico é ouvir agora Cavaco falar da falta de memória dos jovens portugueses e do seu afastamento em relação à política. Ainda por cima falando do 25 de Abril. Vindo de alguém como o Cavaco, qualquer discurso sobre o 25 de Abril soa a bolo rei mal mastigado. Mas o que mais me choca é a falta de percepção daquilo que é a realidade jovem/juvenil do nosso país em pleno séc XXI.

Para compreender o que é determinante politicamente para alguém com menos de 35 anos, deve olhar-se mais depressa para os anos do cavaquismo e do guterrismo (pga, propinas, provas de aferição, provas globais, educação sexual, cargas policiais, os recibos verdes, as privatizações de serviços públicos, as cunhas, o caciquismo, o fandango do dinheiro europeu, etc...) do que para o 25 de Abril. Irónico.

E além disso, o discurso é terrivelmente paternal, conservador e irrelevante. E em vez de o desmontar dessa forma, toda a gente vai atrás dele procurando argumentos que mostram a vitalidade da juventude e como os jovens são exemplares. Neste país há pouca gente exemplar, sobretudo ao nível das elites. Mas de qualquer maneira por mais voltas que dê a Terra nunca Cavaco será capaz de perceber um jovem. Essa distância é uma saudável barreira higiénica.

Em 1934 quantos jovens saberiam quem foi o primeiro presidente da república? E hoje, quantos adultos o sabem? E já agora, isso é tão determinante para a compreensão da realidade social e política da juventude?

A política em Portugal não tem credibilidade. É em certa medida inconsequente. Ninguém tem culpa de nada, tudo vem já decidido algures de Bruxelas, o Estado parece uma comissão liquidatária dos serviços públicos. Mas olhando para a nossa história recente, que legitimidade tem Cavaco Silva para sugerir uma só medida que seja para melhorar a democracia?

Não há por aí um Bob Geldof que lhe atire isso à cara?



| atomium | bruxelas | abril de 2008 |

sexta-feira, maio 09, 2008

17:35h

Ao longo de um mês, impus-me a regra de todos os dias úteis, às 17:35h pegar no telemóvel e improvisar uma "fotografia". De 4 de Abril a 2 de Maio de 2008 resultaram as fotos que aqui publiquei. Olhando para as fotos vejo que muitas delas têm apenas o valor de imagens fortuitas, snapshots de circunstância.

Houve de tudo. Quatro países, dois continentes, momentos de trabalho, de férias, de festa, de família e de doença. Esta é a última foto.

O blogue regressa ao seu ritmo lento. Juro.


| 17:35h | 30 de Abril de 2008 |

Princípios Simples XXVII

Não exigir a outros um zelo e um rigor que visivelmente não aplicamos a nós próprios.


| 17:35h | 29 de Abril de 2008 |

| 17:35 | 28 de Abril de 2008 |